sexta-feira, 8 de maio de 2009
Eu me pertenço.
Pertencer. Não pertencer é mais que um ezinho cortado. É algo lascivo, cruel, amargo, difícil. Pertencer a algo ou alguém é carregar sobre os ombros uma mochila de responsabilidade alheia, pensamentos obrigatoriamente semelhantes, culturas similares, fala, voz, sorriso, sopro, músicas para cantar. Pertencer não se faz. Pertencer a lugares. Prender-se com rigor e formalidade a fotografias. Pertencer a um espaço seu, alheio, comum e coletivo. Pertencer ao dedo de quem manda. Pertencer a quem não conhece mais. Pertencer a um ar que não se aguenta mais respirar. Ser refém da própria memória é pertencer. Tentar, ignorar e esquecer também. Pertencer a pensamentos, acariciar choros. Pertencer de uma forma vazia, limpa, mas pertencer. Identificar-se no solitário de não pertencer. Sufocar-se no exagero de muito pertencer. Pertencer é suavizar as dúvidas oferecendo-lhes uma xícara de amor com crise existencialista. Amor de seres, de querer pertencer e pertencer algo. Uma lágrima. Que seja o algo. Um sorriso, umas lembranças, uma caixa de madeira. Quero sempre pertencer. Para não sofrer tanto, para ajudar a guardar nome, cheiro e certezas próprias a serem sempre lembradas. Pertencer a um mundo que não imagina nada por você é um padecimento tardio, seco, mas com instinto de sobrevivência. E faz bem. Pertencer é voltar no tempo, na linha da largada, onde tudo começou. E ser bem recebido. Ter colo, ombro e um metro quadrado de tecido por ser conhecido. Ultrapassar a gentileza. É não precisar dela nem de flores para preencher espaços. Pertencer é ser completo de alguma forma. Vida, lugar, tempo. É estar preso na liberdade pessoal. E ali flanam: da janela vejo meu gigante pertencer pela rua, acompanhado da minha identidade, de mãos dadas com a minha consciência.
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2 comentários:
Sabe Izabella, hoje soube de uma amiga muito querida que está com sérios problemas de saúde e lendo esse seu texto tão, fiquei com o coração apertado... às vezes não nos pertencemos...
bjs.
Iza, eu adorei. Fiquei pensando em todas as coisas às quais eu acredito pertencer. E pela primeira vez, agradeci. Um beijo para a nossa queirda e mais nova colaboradora do blog. Gabi
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