Os jantares em família durante a semana são a versão contemporânea dos almoços de domingo. Uma escolha muito menos conflitiva, já que os dias de semana são muitos e o domingo é só um. Uma fórmula inteligente para amenizar as disputas entre sogras e salvar o fim de semana. Mas se a data semanal mudou, o formato conceitual continua absolutamente o mesmo. Uma bagunça incontrolável. Mulheres na copa ou cozinha, homens na sala de jantar e crianças no quarto de TV.
As mulheres fofocam, filosofam, trocam idéias de trabalho, filhos e casa. Depois de algum tempo concluem que o papel da mulher moderna é impossível de ser cumprido. Mãe presente, esposa carinhosa, dona de casa eficiente, executiva competente e amante caliente. Não posso opinar por que não sou mãe ;). Portanto, sempre que este debate começa na ala feminina, eu invento uma desculpa para me retirar sutilmente e dar uma espiadinha no assunto da ala masculina.
Os homens geralmente falam sobre coisas mais macro. Desde o desempenho do Corinthians no Brasileirão até os reflexos da crise econômica no dia a dia das empresas. E é justamente a migração do primeiro assunto para o segundo, sem qualquer prejuízo à linha de raciocínio, o que mais me impressiona. Parece que existem estatísticas que provam que quando o Corinthians perde, a produção cai. Depois de alguns goles a conversa vira piada e vou para a sala de TV interagir com a criançada.
Encontro a sala silenciosa, sem nenhuma briga e ninguém se estapeando. Entro com a impressão de que a nova geração é muito mais civilizada do que a minha. Observo que todas as crianças, sem exceção, têm algum aparelhinho nas mãos. DSs, celulares multimídia, PSPs, Ipods ou notebooks. Não há qualquer possibilidade de interação comigo a não ser que eu mande um sms coletivo. Decido testar. Seis celulares tocam quase simultaneamente diferentes hits de Hannah Montana, High School Musical e hino do Santos. Os seis habitantes da sala olham pra mim com cara de “dã”, mas ninguém se digna a responder o meu “Oi” digital.
Esse meio minuto de rejeição eletrônica foi quase tão devastador quanto o pé na bunda analógico que uma vez levei de um gatinho da faculdade. Antes de ser forçada a me retirar da sala de TV, penso em fazer um sermão sobre o fim do mundo. Sim, s o b r e o f i m d o m u n d o mesmo. Aqueles seres sem coração, podem um dia entrar para a alta cúpula do serviço secreto de um país qualquer e tratar o mundo como seu brinquedinho particular. Levanto do sofá, encho o pulmão de ar e antes de começar o discurso, olho novamente para eles com um ar defensivo de superioridade. Todos retribuem meu olhar endiabrado com sorrisos angelicais honestíssimos. Esvaziaram-se as palavras e o pulmão. Só me restava rir do meu próprio surto consciente de baixa auto-estima.
Desarmada, digito dois lembrete no Outlook mobile do meu celular. O primeiro, marcar urgentemente uma sessão extra com a minha psicóloga. O segundo, convidar a Maria para um macarrão na minha casa para a gente abrir a última fase do Mario Kart no Wii. Temos que conseguir antes de encontrar o Gu, meu cunhado, no jantar da semana que vem. Fiquei sabendo que ele já virou pró e tá se achando.
Cheers.
domingo, 2 de novembro de 2008
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2 comentários:
to me achando. já abri até a fase do espelho.
uuuuu. Tá fraco.
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